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As Testemunhas de Jeová e a Falsa Acusação de Ostracismo

Este artigo examina criticamente a acusação de que as Testemunhas de Jeová praticariam o “ostracismo”, entendendo-o como uma forma de exclusão social punitiva e desumana. Demonstra-se que tal alegação carece de fundamento terminológico, bíblico e histórico. A análise evidencia que o procedimento disciplinar cristão, conforme ensinado por Jesus e aplicado pelos apóstolos, difere substancialmente do conceito secular de ostracismo, estando baseado em princípios de amor, arrependimento e restauração espiritual.


1- Definição e Incompatibilidade Conceitual

O termo ostracismo deriva do grego ostrakismós, uma prática da democracia ateniense em que um cidadão era banido da pólis por votação popular, geralmente sem crime definido, mas por razões políticas.
Trata-se, portanto, de uma punição civil e arbitrária, imposta por maioria e sem objetivo moral ou espiritual.

O conceito cristão de disciplina congregacional é radicalmente distinto.
Seu propósito não é excluir por hostilidade, mas preservar a pureza espiritual da congregação e proteger o pecador impenitente de um agravamento moral e espiritual, com vistas à sua recuperação (1 Coríntios 5:5).
Trata-se, portanto, de um ato de amor corretivo, não de repressão social.


2- Fundamentos Bíblicos da Disciplina Cristã

A disciplina congregacional tem raízes no modelo bíblico de justiça e santidade.
No Antigo Testamento, pecados deliberados e contumazes implicavam exclusão da comunidade de Israel (Deuteronômio 13:6-11; Números 15:30-31). Alguns pecados eram passíveis de apedrejamento e morte. (Levítico 20:2)
Esse princípio de separação visava manter o povo “santo para Jeová”.

No Novo Testamento, Cristo reafirma e espiritualiza esse princípio.
Em Mateus 18:15-17, Jesus estabelece um procedimento progressivo para lidar com pecadores: admoestação pessoal, depois com testemunhas e, por fim, comunicação à liderança da congregação.
Caso o indivíduo permanecesse impenitente, deveria ser tratado “como gentio e publicano” — uma expressão que denota separação espiritual e social, não desprezo cruel.
O propósito era a restauração, não a humilhação. [1]

As cartas apostólicas confirmam e ampliam essa instrução.
Paulo, por exemplo, orienta: “Removam o homem mau do meio de vocês.” (1 Coríntios 5:13)
E acrescenta: “Não vos associeis com quem se chama irmão e é fornicador… com tal homem nem comam.” (1 Coríntios 5:11)
O apóstolo João também declara: “Não o recebam em casa nem o cumprimentem.” (2 João 10, 11)
Essas instruções visam preservar o caráter sagrado da congregação, não fomentar animosidade pessoal. [2]


3- Cristo e a Disciplina nas Congregações

As mensagens de Cristo às sete congregações no livro de Apocalipse demonstram que a disciplina espiritual é exigência direta do próprio Senhor Jesus.
Ele elogiou a congregação de Éfeso porque “não podia suportar homens maus” (Apocalipse 2:2), mas repreendeu severamente Pérgamo e Tiatira por tolerarem falsos mestres e práticas imorais (Apocalipse 2:14, 20).
Assim, o Cristo glorificado reprova a tolerância permissiva de pecados crassos e elogia a firmeza moral.
O amor verdadeiro não ignora o erro; mas corrige-o.


4- Refutação de Alegações Comuns

Críticos alegam que o afastamento de pecadores constitui “ostracismo” ou “rejeição social”.
Tal interpretação ignora a motivação e o contexto bíblico da prática.

a) “Jesus nunca rejeitou ninguém.”
Jesus comia com prostitutas e cobradores de impostos que não eram seus seguidores e não conheciam as Escrituras.
Jesus acolhia pecadores arrependidos (Lucas 5:32), mas instruiu a separar os impenitentes (Mateus 18:17).
Ele demonstrava misericórdia, não conivência.

b) “Paulo inventou a ideia de exclusão.”
As cartas apostólicas foram inspiradas pelo Espírito Santo, sob direção de Cristo, o Cabeça da congregação (Efésios 1:22).
A harmonia entre os Evangelhos e as Epístolas é doutrinariamente perfeita.

c) “É uma prática desumana.”
A disciplina visa à restauração espiritual.
Paulo escreveu que o objetivo era “para que o espírito seja salvo no dia do Senhor” (1 Coríntios 5:5). Quando há arrependimento genuíno, a reintegração é calorosa e completa (2 Coríntios 2:6-8).

d) “Afeta famílias e causa sofrimento.”
O princípio bíblico exige lealdade a Deus acima de qualquer laço humano (Mateus 10:37).
Mesmo assim, o contato necessário e respeitoso é preservado. O que se evita é o convívio espiritual e social que contradiga o propósito da disciplina.


5- Considerações Finais

A acusação de que as Testemunhas de Jeová praticam “ostracismo” decorre de um equívoco semântico e teológico.
O termo, historicamente, descreve uma punição política sem motivação moral; já a disciplina cristã é uma medida espiritual e restauradora.

Desde o período apostólico, a congregação cristã foi chamada a manter a santidade e o amor disciplinador.
O próprio Cristo censurou congregações que toleravam o erro e elogiou aquelas que zelavam pela pureza doutrinária.
Portanto, longe de ser uma prática arbitrária ou cruel, o afastamento de pecadores impenitentes reflete a fidelidade ao padrão de Cristo — um ato de amor firme, guiado pelo Espírito, e essencial à integridade moral da congregação cristã.

Estude com honestidade.
Grupo Historiador TJ


VEJA ESSE ARTIGO EM VÍDEO.
Link abaixo.

[1] Comentários sobre Mateus 18:17

Considera-o como gentio ou publicano. Caso haja desrespeito à igreja, o culpado deve ser excluído da comunhão e tratado como a um pagão (o que não deixa de estar dentro do objetivo do amor). (Bíblia Shedd, sobre Mateus 18:17)


Pagão. Para os judeus, significava qualquer tipo de gentio. (Bíblia de Estudo NVI Vida, sobre Mateus 18:17)


A sociedade judaica geralmente não se socializava com gentios ou coletores de impostos. A remoção do corpo de membros da igreja é o primeiro passo no processo que visa trazer pessoas ao arrependimento e reconciliação. … Contudo, os termos usados por Jesus nos lembram do Seu exemplo ao tratar com pecadores e coletores de impostos (9:9-11; 11:19). Seu cuidado amoroso e perdão demonstram como a igreja deveria tratar aqueles que estão desligados, buscando a restauração definitiva de todos os pecadores. (Andrews Study Bible, sobre Mateus 18:17)


“Mas se ele deixar de ouvir a igreja, deixe que ele seja … – Os judeus deram o nome “pagão” ou “gentio” a todas as outras nações, menos a si mesmas. Com eles eles não tinham contato religioso ou comunhão.

Publicano – Veja as notas em Mateus 5:47 . Os publicanos eram pessoas de caráter abandonado, e os judeus não tinham contato com eles. O significado disso é: deixar de ter contato religioso com ele ou reconhecê-lo como um irmão cristão. Isso não significa que devemos deixar de mostrar bondade com ele e ajudá-lo na aflição ou na provação, pois isso é necessário para todas as pessoas; mas significa que devemos negá-lo como um irmão cristão e tratá-lo como fazemos com outras pessoas que não estão ligadas à igreja. Isso não deve ser feito até que todas essas etapas sejam executadas. Esta é a única maneira de bondade. Esta é a única maneira de preservar a paz e a pureza na igreja.” (Comentário de Albert Barnes – Mateus 18:17)


  1. Conte à Igreja – Coloque todo o assunto diante da congregação de crentes cristãos, naquele lugar de que ele é membro, ou diante do ministro e dos anciãos, como representantes da Igreja ou assembléia. Se tudo isso não valer, então,

Seja ele como homem pagão e publicano – A quem tu, como cristão, deves boa e sincera e perseverante boa vontade e atos de bondade; mas não tenha comunhão religiosa com ele até que, se ele foi condenado, ele reconhece sua culpa. Quem segue esta regra tríplice raramente ofende os outros e nunca se ofende. Rev. J. Wesley.

Reprovar um irmão que havia pecado era uma ordem positiva nos termos da lei. Veja Levítico 19:17 . (Comentário de Adam Clarke – Mateus 18:17)

(17). “Se não ouvir a igreja, deve ser excluído. Esse parece ser o significado da última parte do versículo 17.
A palavra igreja só é encontrada em outro lugar nos Evangelhos em Mateus 16.18 -“Edificarei a minha igreja”, em uma referência à igreja de Jesus Cristo em todo o mundo. “Aqui, essa expressão se refere à congregação local, que representa a igreja como um todo, atuando, naturalmente, através de seus ministros.”‘
Anteriormente (Mateus 16.19), Jesus havia dito a Pedro que tudo que ele ligasse na terra seria ligado no céu, e tudo que desligasse na terra seria desligado no céu. Agora, Ele dá a mesma autoridade aos doze apóstolos.” (Comentário Bíblico de Beacon – Mateus 18:17)


“considera-o como gentio e publicano. Tais indivíduos devem ser cortados da comunhão e suspensos das plenas relações sociais com outros cristãos. Paulo aplica esta disciplina em 1Co 5 e 1Tm 1:20.” (Biblia de Genebra- Mateus 18:17)


“Se ele não vai pagar qualquer atenção para os esforços pacíficos da congregação que ele deve ser tratado como um outsider- o gentio e publicano (v. Mt 18:17 ). Ele será um pecador que precisa de salvação, tendo tomado a si mesmo fora da comunhão dos crentes. Ele ainda vai ser objeto de orações dos cristãos e esforços evangelísticos.” (Comentário bíblico John Wesley – Mateus 18:17)


“Se ele se recusa a ouvir a igreja local, certamente é uma influência venenosa e precisa ser excluído. Na boca de Jesus, os termos pagão e publicam claramente indicam que o excluído deve ser ganho novamente.”(Comentário Bíblico da versão NVI por Frederick Fyvie Bruce – Mateus 18:17)


“A última parte do vers. 16 vem de Dt 19:15, seguindo os LXX em geral. O Senhor incorpora este justo e razoável princípio da lei mosaica no Novo Testamento, onde serve para o benefício da Igreja Cristã. Um isso são dados em 1Co 5:4-46 e 1Tm 1:20.” (O Novo Comentário da Bíblia, por Francis Davidson – Mateus 18:17)


Notas de Estudos jw.org – Comentários de Mateus Capítulo 18 versículo 17

à congregação: De acordo com a Lei mosaica, a congregação de Israel era representada por “juízes e oficiais”, que tinham autoridade para fazer julgamentos. (Dt 16:18) Na época de Jesus, os casos eram julgados por tribunais locais formados por anciãos dos judeus. (Mt 5:22) Mais tarde, homens responsáveis designados por espírito santo serviriam como juízes em cada congregação cristã. — At 20:28-1Co 5:1-5, 12, 13; para o significado da palavra “congregação”, veja a nota de estudo em Mt 16:18 e o Glossário, “Congregação”.

Como homem das nações e como cobrador de impostos: Ou seja, como as pessoas com quem os judeus não tinham nenhum contato desnecessário. — Compare com At 10:28.


[2] Comentários de eruditos protestantes sobre 1 Coríntios 5.

“nenhum crente deve receber [o desassociado] em termos de intimidade com ele; caso contrário, a autoridade da Igreja seria desprezada, se cada indivíduo tivesse a liberdade de admitir à sua mesa aqueles que foram excluídos da mesa do Senhor. Participar de comida aqui significa viver juntos ou associar-se às refeições. […] O que Paulo quer dizer é que, na medida em que está ao nosso alcance, devemos evitar a associação com aqueles com quem a Igreja cortou sua comunhão.”
(https://ccel.org/ccel/calvin/calcom39/calcom39.xii.iii.ht ml) (João Calvino)


a “[os excomungados] não deviam apenas ser removidos de sua sociedade religiosa, [ou] da comunicação com igreja, e impedidos de se sentarem juntos [para] comer à mesa do Senhor, ou em seus banquetes fraternais, mas também lhes deviam ser negadas a conversa civil e a intimidade com eles.” (Sobre 1 Coríntios 5:11)

“envergonhar tais ofensores e levá-los ao arrependimento”

(John Gill, Exposition of the Bible. Comentário sobre 1 Coríntios 5:11. Disponível em www.biblestudytools.com)


“ter nenhuma comunicação com tal pessoa, nem em coisas sagradas nem em civis”.

(Adam Clarke, Commentary on the Bible. Comentário sobre 1 Coríntios 5:11. Disponível em www.studylight.org)


“Esta completa separação afastamento de toda a comunicação eram necessários nesses tempos para proteger a igreja de escândalo, e dos relatos injuriosos que circulavam.” [O grifo é meu] (Sobre 1 Coríntios 5:11)

(Albert Barnes, Notes on the Bible. Disponível
em www.biblestudytools.com)


“qualquer associação social com tal pessoa, como tomar uma refeição com ela, em sua residência, e nem seja tal pessoa convidada para tal coisa na residência de algum crente. Isso segue os passos da exclusão entre os judeus, a qual não envolvia somente a sinagoga, mas também cobria as situações sociais.”

“serve para mostrar [ao pecador] que a igreja está profundamente preocupada com a questão,”

“medidas drásticas”,

“isso visa ao seu próprio bem.”

“Uma disciplina severa pode produzir o bom efeito de fazer o crente errado voltar ao bom senso, e, finalmente, ao arrependimento autêntico.” (p. 76)

(Russell Norman Champlin. O Novo Testamento Interpretado, Versículo por Versículo. Vol. 4, Editora Candeia, 1995)


“Há várias passagens no NT que se referem ao exercício da disciplina.
(1 Co 5:2, 7, 13; 2 Co 2:5-7; 2 Ts 3:14, 15; 1 Tim 1:20; Tt 3:10)
Na igreja de Corinto aconteceu um colapso moral que causou um escândalo por toda a cidade.
Para a sua vergonha, a igreja não tomou nenhuma atitude e, por isso deu a impressão de que havia convivência com o pecado que foi cometido.
Paulo conclamou a igreja a agir.
A frase “seja entregue a Satanás” ocorre duas vezes (1 Co 5:5; 1 Tm 1:20) no NT.
Ela provavelmente significa simplesmente expulsar da comunhão e entregar ao mundo pagão. . .

Sendo privado do companherismo cristão, o ofensor perde um falso sentido de segurança que ele poderia, de outro modo, gozar por ser tolerada sua permanência no convívio da igreja. Ele deve ser levado a ver o abominável pecado que cometeu e, ao mesmo tempo, o mundo em geral deve estar ciente de que o pecado flagrante não pode estar dentro da igreja Cristã. . .

A idéia fundamental pode ser a de que o infrator, sendo cortado do companherismo cristão, se tornará vivamente consciente de seu pecado e culpa e abominará a si mesmo pelo que fez.

Parece que na igreja primitiva a excomunhão era exercida tanto no campo moral quanto no doutrinário [APOSTASIA].
Na igreja de Corinto (1 Co 5:1-8) a ofensa. . . era a do incesto. Paulo anuncia em sua primeira carta a Timóteo (1 Tm 1:20) que ele tinha excomungado Himeneu e Alexandre por causa dos seus ensinos falsos. [APOSTASIA]

Um espírito cistemático também foi observado como uma ocasião para exclusão dos privilégios da confraternização da igreja. (Tt 3:10).
Nas mensagens às sete igrejas no livro de Apocalipse, a igreja de Éfeso é elogiada porque não tolerava homens maus, enquanto que as igrejas de Pérgamo e Tiatira são reprovadas porque não tomaram ação efetiva contra professores heréticos ou abominações pagãs entre eles.

O propósito que está por trás do exercício da disciplina da igreja é defender a pureza da própria igreja e fazer voltar ao transgressor sua necessidade de arrependimento. . .

A excomunhão formal não significava somente a separação de elos formais com a comunhão local, mas geralmente a exclusão da vida na igreja. Os membros da igreja eram aconselhados a não comer ou apreciar relações sociais com alguém que tinha sido excomungado. (1 Co 5:11; 2 Ts 3:14, 15).”

(Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã, Vol. 2 – verbete Excomunhão)


EXCLUSÃO

  1. Exclusão Eclesiástica.

a. Pano de Fundo. A raiz primi-tiva dessa prática da exclusão era o herem, “banimento”, do judaísmo, que era aplicado àqueles que desobedecessem grave-mente à lei mosaica, pondo-se assim fora do rebanho e sujeitando-se a várias medidas disciplinares. (Ver Ex 30.22-38; Lv 17.4). O banimento podia tomar a forma de uma total exclusão da comunidade. Um desenvolvimento posterior foi o nidduy, mais leniente, que impunha apenas restrições sociais, e que se prolongava por trinta ou sessenta dias.

b. No Novo Testamento. Hå referências neotestamentárias à prática judaica, como se vê em (Lc 6.22; Jo 9.22; 12.42 e 16.2). Jesus enfatizava a necessidade de disciplina. Para a igreja, ele determinou uma admoestação pessoal aos ofensores, seguida por uma admoestação mais formal, por parte da igreja inteira. O membro ofensor que não ouvisse nenhuma dessas admoestações, deveria ser então excluído. (Ver Mateus 18.15-17. Na era apostólica, a prática desenvolveu-se, conforme se vê em 1Co 5.2,7,13; 2Ts 3.14,15; 1Tm 1.20; Tt 3.10). Essas referências mostram que a disciplina era aplicada por razões morais e doutrinárias.

A exclusão formal incluía a separação entre o excluído e a comunidade cristă, a fim de que aquele aprendesse que certas coisas precisam ser feitas ou precisam deixar de ser feitas, para que alguém seja aceito como membro. O trecho de 1João 5.16 parece envolver o equivalente cristão da sentença de morte para graves ofensores, embora exercida mediante a solicitação dirigida a Deus de que isso tenha lugar, e não por algum ato efetuado pelo homem. O trecho de 1Timóteo 1.20 cabe dentro dessa categoria. Tal ato pode tornar-se necessário, mas sempre será raro.

Novo Dicionário Bíblico Champlin, da editora Hagnos.


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